Às vezes eu
penso na terceira pessoa, como a gente ou como um sujeito indeterminado. O
despertador toca, tem que acordar, tem que acordar a criatura cujo sono resiste
ao despertador do celular, tem que tomar café da manhã e fazer a lista mental
das tarefas do dia. Na hora de me vestir até posso ter a impressão de que estou
fazendo escolhas, mas me visto em função do que é adequado para cada atividade.
Olho a boina verde peluda empoeirada na prateleira de cima e para o colar de
havaiana jogado no quarto das crianças, que combinam, mas não ouso vesti-los
para ir trabalhar. A boina eu até consigo usar se não me importo de chamar um
pouco de atenção, mas o colar de havaianas tipo só no carnaval.
Eu acho que
a gente percebe que a gente é bem pouco eu. Acho que a primeira vez que eu pensei
nisso eu tinha 12 anos. Tentei explicar pra uma amiga minha o que eu chamei de “teoria
do eu”, mas não consegui. Alguns anos depois, algumas aulas de história me
ajudaram a organizar essa ideia-sensação da pequenez do nosso eu. Finalmente,
com o passar dos anos, a ideia ganhou concretude e pôde ultrapassar o estágio
de ideia (mandei um Hegel aí). O meu eu que se formou ao longo dos anos, e que não
estava pronto antes da experiência vivida, é mesmo bem pequenino. E olha que eu
nem estou trabalhando pra ninguém.
Uma parada
que é muito doida é que mesmo quando eu tô sendo a gente, eu continuo sendo eu,
especialmente quando eu consigo ter consciência de que eu só sou eu naquele a
gente. Me faz pensar que a gente podemos ser agente.
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